quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Um grito parado no ar

Trecho da peça teatral "Um grito parado no ar" de Gianfrancesco Guarnieri


Amanda: Vamos fazer definitivamente tudo... Reconhecer tudo... Não há mais por que se agredir, fugir, fugir... Vamos reconhecer e – tchin tchin – está bem? Que aconteceu conosco? A gente ria, a gente brigava, a gente cantava... Havia alegria numa confusão enorme... Por quê? Vamos reconhecer... Explicar... E depois tudo que você quiser!... Tchin-tchin mil vezes... Mas em paz, meu Deus do céu... Me ouve Fernando!... O que está acontecendo com a gente... Lembra como a gente era... Lembra, Fernando, lembra... Caramba, dois caras mais do que cem por cento, mais do que legais... Com suas tolices, suas caturrices, até mesmo burrice em certas coisas... Mas era legal... Depois, acho que os dois, nós fomos murchando... Quando a gente ria, a gente achava graça mesmo... Quando a gente falava... a gente falava mesmo... Era tudo mesmo... Depois é que virou no faz-de-conta e no subentendido... Você não percebe isso Fernando, que nós somos outras pessoas... Totalmente diferentes e tão piores... Você percebe que você não ouve mais, Fernando? Você não ouve mais... Surdo, mudo e morto... Mas vai me ouvir... Fernando!..... Fernando!..... Fernando!.... Fernando!.....

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